16 de outubro de 2014
Edifício ID, Sala multiusos 2, piso 4
RESUMOS
Edifício ID, Sala multiusos 2, piso 4
RESUMOS
As cantigas de Martin Codax: fragmentarismo ou obra pechada?
Xosé Ramón Pena (Vigo)
Hai xa máis de dez anos que nos ocuparamos, nun congreso celebrado na Universidade de Birmingham, arrredor da presenza/ausencia de secuencias organizativas no pequeno cancioneiro de Martin Codax. Naquela ocasión, interpretamos que este pode ser percibido desde, polo menos, catro posíbeis alternativas:
1ª: Nesa mesma na que chegaron onde nós a través dos cancioneiros
2ª: Nunha reorganización do pequeno ciclo dun trobador concreto e na que, polo tanto, variaría o decorrer organizativo: a VIª cantiga podería actuar como apertura do ciclo, a IIª como continuación, etc.
3ª: Inseridos os poemas -ou un grupo de poemas, ou tan só un único poema- noutro ciclo no que participen composicións de diferentes trobadores que poidan xirar arredor dun eixo común: musical ou temático (encontro/desencontro nun santuario; comprensión/impedimento por parte da nai, etc) que os englobe.
4ª: Intepretadas individualmente, nunha ordenación puramente azarosa e circunstancial, de acordo coas necesidades do momento.
É a nosa intención, agora, revisar o dito naquela altura e considerar as posibilidades arredor dun confronto con outros textos referidos ao "mar de Vigo" e ao conxunto da literatura/cultura medieval."
As cantigas do Pergaminho Sharrer. Motivos fundamentais
Leticia Eirín (U. da Corunha)
No presente ano 2014 celebramos o centenário da descoberta realizada pelo livreiro Pedro Vindel do pergaminho que contém as sete cantigas de amigo de Martin Codax. Quase oito décadas depois, no ano 1990, o Professor Harvey L. Sharrer, da Universidade de Califórnia, acha no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, e como coberta da capa de um livro do Cartório Notarial de Lisboa, um outro pergaminho contendo, neste caso, sete cantigas de amor do rei e trovador D. Denis. Trata-se dos dois únicos testemunhos individuais da poesia medieval galego-portuguesa que chegaram até nós, e também os dois únicos casos em que se nos transmite a notação musical de cantigas da lírica profana.
Neste relatório centraremos a nossa atenção no segundo dos pergaminhos citados, nas sete cantigas de amor do rei-trovador, para desenvolver uma análise baseada no estudo dos topos ou temas que nelas aparecem e nos artifícios de que D. Denis se serve para expressá-los. Tentaremos também estabelecer analogias e/ou divergências a este respeito procurando possíveis elementos unitários entre os sete textos, mas também em termos de comparação com as outras sessenta e seis cantigas de amor do trovador, e mesmo com o conjunto do género de amor galego-português. Com isto pretendemos, aliás, pôr de relevo em que pontos D. Denis segue os preceitos habituais da cantiga de amor galego-portuguesa e do amor cortês, e em quais e de que modo introduz inovações ou rupturas a respeito do cânone, características estas últimas que serviram para que o cancioneiro do trovador tenha sido singularizado em numerosas ocasiões por diversos estudiosos.
Ler o Pergaminho Vindel
Manuel Pedro Ferreira (CESEM-FCSH-UNL)
Nesta comunicação voltará a colocar-se a questão da natureza do manuscrito hoje conservado em Nova Iorque. Teria sido realmente uma folha volante, como, na sequência da sua descrição na literatura secundária como “rolo”, propus em 1986? Um reexame recente in loco permite especular sobre uma planeada integração em livro. Quais são as implicações, para a abordagem das cantigas de Martim Codax, desta nova hipótese de interpretação material?
Métrica acentual nas cantigas de amigo
Stephen Parkinson (U. Oxford)
Partindo do princípio de a métrica ser um sistema de contagem organizado como gramática, e aplicando uma tipologia métrica abrangendo tipos acentuais puros e tipos silábicos puros, tento redefinir o que seria uma métrica acentual no âmbito da lírica galego-portuguesa, e especialmente nas cantigas de amigo, nas quais se verifica uma contagem simultânea de silabas e acentos.
Os lais de Bretanha e a questão dos gêneros: as "bailadas"
Yara Frateschi (UNICAMP)
Dentre os cinco lais transmitidos como peças iniciais do Cancioneiro da Biblioteca Nacional e conhecidos como Lais de Bretanha, dois deles, B 2 e B 5, colocam problemas específicos: são os únicos que não têm fonte francesa identificada, da qual teriam sido traduzidos; não provêm do Roman de Tristan, como os outros três, mas podem ter sido “criados” a partir de sugestões de cantigas de roda (carole) mencionadas em dois episódios narrativos em prosa, contidos, respectivamente, na Suite du Merlin e na Folie Lancelot; não possuem a forma estrófica dos lais integrados ou arturianos, mas a de uma cantiga de amigo tradicional.
Pretendo examinar alguns aspectos que considero relevantes, tais como: as fontes; a voga das inserções líricas em contexto narrativo nos textos franceses a partir do Roman de la Rose ou Guillaume de Dole, de Jean Renart, e na literatura hispânica de meados do século XIV; e a difusão e as características dos gêneros ligados à dança (carole, rondet de carole, refrães, ballette, balada, bailada), buscando esclarecer os motivos que teriam levado à elaboração e à incorporação desses dois lais anômalos no conjunto dos cinco Lais de Bretanha, a possível data da sua composição, bem como o fato de terem sido incluídos numa recolha da produção lírica.
De um antigo canto em francês a textos tardios em galego-português. Os lais
Maria Ana Ramos (U. Zurich)
Em 1900-1901, Carolina Michaëlis escreveu um longo ensaio, intitulado Lais de Bretanha (Revista Lusitana VI), retomado, pouco depois, no seu Cancioneiro da Ajuda (1904). Este estudo continua a ser, ainda hoje, trabalho de leitura incontornável, apesar de inúmeras tentativas de análise, para melhor entendermos a presença deste tipo de composição poética na tradição manuscrita da lírica ocidental ibérica.
Voltando a lê-la, mais de um século depois, e tendo em conta os estudos, que têm sido efetuados sobre a singularidade dos lais galego-portugueses (génese, cronologia, tradição manuscrita, etc.), apercebemo-nos do tanto que já foi enunciado, e do quanto ainda nos falta para o entendimento destes poemas.
Procurarei incidir a minha atenção na questão essencial ligada à circulação textual e à circulação lexical (mas também musical e coreográfica) deste tipo de poema dentro de um mesmo espaço linguístico (galo-românico) e nos processos de transição de lais de um centro cultural para outro (de França para a Península Ibérica).
O teimoso ecoar das ondas codaxianas
Carlos Paulo Martínez Pereiro (U. da Coruña)
Neste relatório, por um lado, se analisa, de maneira crítica e através de exempla paradigmáticos de inegável relevo estético, as diversas e diversificadas, convergentes e divergentes vias de atualização literária e/ou de apropriação simbólica das cantigas de amigo de Martin Codax, assim como, por outro lado, se avalia, de maneira ponderativa, a importância emblemática e/ou representativa tanto da figura e as composições líricas deste músico-poeta, quanto das consequências derivadas do achamento do próprio Pergaminho Vindel.
A análise crítica e a avaliação ponderativa centram-se, de maneira preferente (mas não só), no âmbito contemporâneo das três literaturas e espaços culturais brasileiros, galegos e portugueses, destinatários ‘naturais e primeiros’ da poesia trovadoresca galego-portuguesa.
O corpo contemporâneo de Martin Codax: uma experiência de palco no Brasil
Janaína Marques
As sete cantigas de Codax ganharam novo ânimo no Brasil com a sua transcriação, realizada em 2011 pelo Grupo Corpo de dança contemporânea para o espetáculo “Sem Mim”, com coreografia de Rodrigo Pederneiras e concepção musical do brasileiro de José Miguel Wisnik e do galego Carlos Nuñez. O trabalho é muito significativo, pois pela primeira vez um grupo se dedica a dançar a poesia trovadoresca, convidando o espectador a indagar-se sobre os contextos performativos dessa arte que, como sabemos, era indissociável do corpo e do gesto. A presente comunicação investigará as orientações estéticas que conduziram essa montagem no âmbito musical, coreográfico e cenográfico buscando responder a pergunta: em que medida esta criação artística traz novas perspectivas para os estudos literários medievais?
Ouvir Martim Codax hoje
1. A questão da voz
Ana Raquel Baião Roque (IEM- FCSH-UNL)
Dado o nosso quase absoluto desconhecimento da vertente musical das cantigas profanas peninsulares, as versões musicais contemporâneas que têm sido feitas a partir das notações musicais das cantigas de Martim Codax cuja música chegou até nós são muito diversas a vários níveis (como, por exemplo, a instrumentação, o andamento ou o número e tipo de cantores). Nesta breve apresentação, debruçar-me-ei apenas sobre a questão da voz, tentando perceber de que forma e a que ponto questões como o timbre do cantor, a sua dicção e a forma como este interpreta as cantigas influenciam a perceção do texto e a compreensão do seu sentido. Simultaneamente, tentarei outrossim perceber se o facto de ser um homem ou uma mulher a cantar estas composições – que, não esqueçamos, resultam de um interessante processo de ficção poética através do qual um trovador se expressa como se fosse uma jovem – condiciona ou não a compreensão, por parte do público, do sentido das cantigas.
2. A questão da instrumentação
Rui Araújo (CESEM-FCSH-UNL)
Existindo diversos ensembles que interpretam (ou interpretaram) as cantigas de Codax, ao longo das últimas décadas, será importante tentar perceber quais foram as fontes utilizadas para essas interpretações. Foi feita uma consulta das fontes académicas com transcrição musical para a notação moderna ou as interpretações foram realizadas numa interpretação mais pessoal e livre do Pergaminho Vindel? Dentro das edições disponíveis, existem algumas que serão mais utilizadas? No fundo tentar esclarecer quais são os modelos e paradigmas da realização das Cantigas de amigo de Martin Codax na nossa época.
Ondas e altas ondas: revisitando algumas influências marítimas e terrestres na fase inicial da lírica galego-portuguesa
Graça Videira Lopes (IEM-FCSH-UNL)
Se nada sabemos de Martim Codax, sobre cuja identidade, biografia ou mesmo época de florescimento tem sido difícil localizar documentos, há muito que os investigadores sinalizaram as relações de semelhança que parecem estabelecer-se entre as suas cantigas do "mar de Vigo" e uma das mais célebres composições occitânicas, "Altas undas que venez sus la mar", cuja autoria, ainda que polémica, é atribuível a Raimbaut de Vaqueiras, um autor cuja cronologia nos remete para a fase inicial da lírica galego-portuguesa. Nesta intervenção, irei revisitar o problema, tentando resumir criticamente o "estado da arte" no que toca às tão discutidas origens da lírica ibérica em galego-português.
A lírica medieval na Sicília I
Manuele Masini (IELT-FCSH-UNL)
Escola poética e filosófica da primeira metade do séc. XIII, a “scuola poetica siciliana” representa também o primeiro fenómeno lírico num vulgar italiano (o siciliano), suficientemente original e autonomizado em relação às poéticas provençais. Relacionado com o florescer da corte siciliana na época de Federico II, o movimento é destinado a vida breve, mas deixará marcas e influências no futuro desenvolvimento da lírica italiana, nomeadamente na Toscana, com o “stilnovo”, movimento muito mais conhecido, pois no seu interior move os primeiros passos Dante Alighieri. Nesta comunicação tentaremos traçar um excursus sobre as características mais peculiares da escola, sobre a língua e as formas empregadas (entre elas, a invenção do soneto), sobre os recursos estilísticos, de modo a evidenciar afinidades e diferenças (e a originalidade específica) em relação aos demais movimentos europeus e sobretudo à poesia provençal, que não deixa de ser (até por relações directas das cortes) o ponto de partida dos nossos.
A lírica medieval na Sicília II
Gianfranco Ferraro (IFL-FCSH-UNL)
A escola poética siciliana representa um dos poucos fenómenos culturais realmente endógenos em relação à história da Sicília: seu traço característico, também em comparação com outras experiências de expressão literária em vulgar, é o facto de os seus maiores mebros pertencerem a uma classe de funcionários que, junto com o cotidiano serviço prestado a um estado centralizado, desenvolve um imaginário em que a descrição da dinámica amorosa torna-se consciente e frágil suspenção da vida sobre o pó corruptor da história. Emerge assim uma nova figura de intelectual que, após o desaparecimento dos historiadores antigos, só voltamos a encontrar nos filósofos dos reinos árabes, e sucesivamente nos grandes humanistas. Nesta comunicação, após uma análise do contexto social em que a escola se desenvolve, tentaremos definir as principais linhas do imaginário poético siciliano justamente em relação à emergência do tema amoroso paralelamente à constatação da precariedade da história.
Xosé Ramón Pena (Vigo)
Hai xa máis de dez anos que nos ocuparamos, nun congreso celebrado na Universidade de Birmingham, arrredor da presenza/ausencia de secuencias organizativas no pequeno cancioneiro de Martin Codax. Naquela ocasión, interpretamos que este pode ser percibido desde, polo menos, catro posíbeis alternativas:
1ª: Nesa mesma na que chegaron onde nós a través dos cancioneiros
2ª: Nunha reorganización do pequeno ciclo dun trobador concreto e na que, polo tanto, variaría o decorrer organizativo: a VIª cantiga podería actuar como apertura do ciclo, a IIª como continuación, etc.
3ª: Inseridos os poemas -ou un grupo de poemas, ou tan só un único poema- noutro ciclo no que participen composicións de diferentes trobadores que poidan xirar arredor dun eixo común: musical ou temático (encontro/desencontro nun santuario; comprensión/impedimento por parte da nai, etc) que os englobe.
4ª: Intepretadas individualmente, nunha ordenación puramente azarosa e circunstancial, de acordo coas necesidades do momento.
É a nosa intención, agora, revisar o dito naquela altura e considerar as posibilidades arredor dun confronto con outros textos referidos ao "mar de Vigo" e ao conxunto da literatura/cultura medieval."
As cantigas do Pergaminho Sharrer. Motivos fundamentais
Leticia Eirín (U. da Corunha)
No presente ano 2014 celebramos o centenário da descoberta realizada pelo livreiro Pedro Vindel do pergaminho que contém as sete cantigas de amigo de Martin Codax. Quase oito décadas depois, no ano 1990, o Professor Harvey L. Sharrer, da Universidade de Califórnia, acha no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, e como coberta da capa de um livro do Cartório Notarial de Lisboa, um outro pergaminho contendo, neste caso, sete cantigas de amor do rei e trovador D. Denis. Trata-se dos dois únicos testemunhos individuais da poesia medieval galego-portuguesa que chegaram até nós, e também os dois únicos casos em que se nos transmite a notação musical de cantigas da lírica profana.
Neste relatório centraremos a nossa atenção no segundo dos pergaminhos citados, nas sete cantigas de amor do rei-trovador, para desenvolver uma análise baseada no estudo dos topos ou temas que nelas aparecem e nos artifícios de que D. Denis se serve para expressá-los. Tentaremos também estabelecer analogias e/ou divergências a este respeito procurando possíveis elementos unitários entre os sete textos, mas também em termos de comparação com as outras sessenta e seis cantigas de amor do trovador, e mesmo com o conjunto do género de amor galego-português. Com isto pretendemos, aliás, pôr de relevo em que pontos D. Denis segue os preceitos habituais da cantiga de amor galego-portuguesa e do amor cortês, e em quais e de que modo introduz inovações ou rupturas a respeito do cânone, características estas últimas que serviram para que o cancioneiro do trovador tenha sido singularizado em numerosas ocasiões por diversos estudiosos.
Ler o Pergaminho Vindel
Manuel Pedro Ferreira (CESEM-FCSH-UNL)
Nesta comunicação voltará a colocar-se a questão da natureza do manuscrito hoje conservado em Nova Iorque. Teria sido realmente uma folha volante, como, na sequência da sua descrição na literatura secundária como “rolo”, propus em 1986? Um reexame recente in loco permite especular sobre uma planeada integração em livro. Quais são as implicações, para a abordagem das cantigas de Martim Codax, desta nova hipótese de interpretação material?
Métrica acentual nas cantigas de amigo
Stephen Parkinson (U. Oxford)
Partindo do princípio de a métrica ser um sistema de contagem organizado como gramática, e aplicando uma tipologia métrica abrangendo tipos acentuais puros e tipos silábicos puros, tento redefinir o que seria uma métrica acentual no âmbito da lírica galego-portuguesa, e especialmente nas cantigas de amigo, nas quais se verifica uma contagem simultânea de silabas e acentos.
Os lais de Bretanha e a questão dos gêneros: as "bailadas"
Yara Frateschi (UNICAMP)
Dentre os cinco lais transmitidos como peças iniciais do Cancioneiro da Biblioteca Nacional e conhecidos como Lais de Bretanha, dois deles, B 2 e B 5, colocam problemas específicos: são os únicos que não têm fonte francesa identificada, da qual teriam sido traduzidos; não provêm do Roman de Tristan, como os outros três, mas podem ter sido “criados” a partir de sugestões de cantigas de roda (carole) mencionadas em dois episódios narrativos em prosa, contidos, respectivamente, na Suite du Merlin e na Folie Lancelot; não possuem a forma estrófica dos lais integrados ou arturianos, mas a de uma cantiga de amigo tradicional.
Pretendo examinar alguns aspectos que considero relevantes, tais como: as fontes; a voga das inserções líricas em contexto narrativo nos textos franceses a partir do Roman de la Rose ou Guillaume de Dole, de Jean Renart, e na literatura hispânica de meados do século XIV; e a difusão e as características dos gêneros ligados à dança (carole, rondet de carole, refrães, ballette, balada, bailada), buscando esclarecer os motivos que teriam levado à elaboração e à incorporação desses dois lais anômalos no conjunto dos cinco Lais de Bretanha, a possível data da sua composição, bem como o fato de terem sido incluídos numa recolha da produção lírica.
De um antigo canto em francês a textos tardios em galego-português. Os lais
Maria Ana Ramos (U. Zurich)
Em 1900-1901, Carolina Michaëlis escreveu um longo ensaio, intitulado Lais de Bretanha (Revista Lusitana VI), retomado, pouco depois, no seu Cancioneiro da Ajuda (1904). Este estudo continua a ser, ainda hoje, trabalho de leitura incontornável, apesar de inúmeras tentativas de análise, para melhor entendermos a presença deste tipo de composição poética na tradição manuscrita da lírica ocidental ibérica.
Voltando a lê-la, mais de um século depois, e tendo em conta os estudos, que têm sido efetuados sobre a singularidade dos lais galego-portugueses (génese, cronologia, tradição manuscrita, etc.), apercebemo-nos do tanto que já foi enunciado, e do quanto ainda nos falta para o entendimento destes poemas.
Procurarei incidir a minha atenção na questão essencial ligada à circulação textual e à circulação lexical (mas também musical e coreográfica) deste tipo de poema dentro de um mesmo espaço linguístico (galo-românico) e nos processos de transição de lais de um centro cultural para outro (de França para a Península Ibérica).
O teimoso ecoar das ondas codaxianas
Carlos Paulo Martínez Pereiro (U. da Coruña)
Neste relatório, por um lado, se analisa, de maneira crítica e através de exempla paradigmáticos de inegável relevo estético, as diversas e diversificadas, convergentes e divergentes vias de atualização literária e/ou de apropriação simbólica das cantigas de amigo de Martin Codax, assim como, por outro lado, se avalia, de maneira ponderativa, a importância emblemática e/ou representativa tanto da figura e as composições líricas deste músico-poeta, quanto das consequências derivadas do achamento do próprio Pergaminho Vindel.
A análise crítica e a avaliação ponderativa centram-se, de maneira preferente (mas não só), no âmbito contemporâneo das três literaturas e espaços culturais brasileiros, galegos e portugueses, destinatários ‘naturais e primeiros’ da poesia trovadoresca galego-portuguesa.
O corpo contemporâneo de Martin Codax: uma experiência de palco no Brasil
Janaína Marques
As sete cantigas de Codax ganharam novo ânimo no Brasil com a sua transcriação, realizada em 2011 pelo Grupo Corpo de dança contemporânea para o espetáculo “Sem Mim”, com coreografia de Rodrigo Pederneiras e concepção musical do brasileiro de José Miguel Wisnik e do galego Carlos Nuñez. O trabalho é muito significativo, pois pela primeira vez um grupo se dedica a dançar a poesia trovadoresca, convidando o espectador a indagar-se sobre os contextos performativos dessa arte que, como sabemos, era indissociável do corpo e do gesto. A presente comunicação investigará as orientações estéticas que conduziram essa montagem no âmbito musical, coreográfico e cenográfico buscando responder a pergunta: em que medida esta criação artística traz novas perspectivas para os estudos literários medievais?
Ouvir Martim Codax hoje
1. A questão da voz
Ana Raquel Baião Roque (IEM- FCSH-UNL)
Dado o nosso quase absoluto desconhecimento da vertente musical das cantigas profanas peninsulares, as versões musicais contemporâneas que têm sido feitas a partir das notações musicais das cantigas de Martim Codax cuja música chegou até nós são muito diversas a vários níveis (como, por exemplo, a instrumentação, o andamento ou o número e tipo de cantores). Nesta breve apresentação, debruçar-me-ei apenas sobre a questão da voz, tentando perceber de que forma e a que ponto questões como o timbre do cantor, a sua dicção e a forma como este interpreta as cantigas influenciam a perceção do texto e a compreensão do seu sentido. Simultaneamente, tentarei outrossim perceber se o facto de ser um homem ou uma mulher a cantar estas composições – que, não esqueçamos, resultam de um interessante processo de ficção poética através do qual um trovador se expressa como se fosse uma jovem – condiciona ou não a compreensão, por parte do público, do sentido das cantigas.
2. A questão da instrumentação
Rui Araújo (CESEM-FCSH-UNL)
Existindo diversos ensembles que interpretam (ou interpretaram) as cantigas de Codax, ao longo das últimas décadas, será importante tentar perceber quais foram as fontes utilizadas para essas interpretações. Foi feita uma consulta das fontes académicas com transcrição musical para a notação moderna ou as interpretações foram realizadas numa interpretação mais pessoal e livre do Pergaminho Vindel? Dentro das edições disponíveis, existem algumas que serão mais utilizadas? No fundo tentar esclarecer quais são os modelos e paradigmas da realização das Cantigas de amigo de Martin Codax na nossa época.
Ondas e altas ondas: revisitando algumas influências marítimas e terrestres na fase inicial da lírica galego-portuguesa
Graça Videira Lopes (IEM-FCSH-UNL)
Se nada sabemos de Martim Codax, sobre cuja identidade, biografia ou mesmo época de florescimento tem sido difícil localizar documentos, há muito que os investigadores sinalizaram as relações de semelhança que parecem estabelecer-se entre as suas cantigas do "mar de Vigo" e uma das mais célebres composições occitânicas, "Altas undas que venez sus la mar", cuja autoria, ainda que polémica, é atribuível a Raimbaut de Vaqueiras, um autor cuja cronologia nos remete para a fase inicial da lírica galego-portuguesa. Nesta intervenção, irei revisitar o problema, tentando resumir criticamente o "estado da arte" no que toca às tão discutidas origens da lírica ibérica em galego-português.
A lírica medieval na Sicília I
Manuele Masini (IELT-FCSH-UNL)
Escola poética e filosófica da primeira metade do séc. XIII, a “scuola poetica siciliana” representa também o primeiro fenómeno lírico num vulgar italiano (o siciliano), suficientemente original e autonomizado em relação às poéticas provençais. Relacionado com o florescer da corte siciliana na época de Federico II, o movimento é destinado a vida breve, mas deixará marcas e influências no futuro desenvolvimento da lírica italiana, nomeadamente na Toscana, com o “stilnovo”, movimento muito mais conhecido, pois no seu interior move os primeiros passos Dante Alighieri. Nesta comunicação tentaremos traçar um excursus sobre as características mais peculiares da escola, sobre a língua e as formas empregadas (entre elas, a invenção do soneto), sobre os recursos estilísticos, de modo a evidenciar afinidades e diferenças (e a originalidade específica) em relação aos demais movimentos europeus e sobretudo à poesia provençal, que não deixa de ser (até por relações directas das cortes) o ponto de partida dos nossos.
A lírica medieval na Sicília II
Gianfranco Ferraro (IFL-FCSH-UNL)
A escola poética siciliana representa um dos poucos fenómenos culturais realmente endógenos em relação à história da Sicília: seu traço característico, também em comparação com outras experiências de expressão literária em vulgar, é o facto de os seus maiores mebros pertencerem a uma classe de funcionários que, junto com o cotidiano serviço prestado a um estado centralizado, desenvolve um imaginário em que a descrição da dinámica amorosa torna-se consciente e frágil suspenção da vida sobre o pó corruptor da história. Emerge assim uma nova figura de intelectual que, após o desaparecimento dos historiadores antigos, só voltamos a encontrar nos filósofos dos reinos árabes, e sucesivamente nos grandes humanistas. Nesta comunicação, após uma análise do contexto social em que a escola se desenvolve, tentaremos definir as principais linhas do imaginário poético siciliano justamente em relação à emergência do tema amoroso paralelamente à constatação da precariedade da história.